INCÊNDIO DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO: A TRAGÉDIA ANUNCIADA
Fotos: Arlindo Gregório
Poucos episódios consternaram Pirassununga como o incêndio do
Instituto de Educação, ocorrido no início dos anos 80.
O descaso das autoridades, que ignoraram os alertas e apelos da
direção da escola sobre o estado crítico no qual se encontrava o Instituto de
Educação, também causou revolta e ainda continua, 35 anos depois, “entalado na
goela de todos nós”, que testemunhamos, estarrecidos, a tragédia mais que
anunciada.
O regime era militar. O presidente da República era o General
João Baptista de Oliveira Figueiredo e Paulo Salim Maluf o governador de São
Paulo, eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral. O prefeito de Pirassununga
era Rubens Santos Costa.
Tente imaginar se um incêndio daquela proporção ocorresse nos
dias atuais no mesmo Instituto de Educação, a repercussão que o sinistro
provocaria nas mídias e nas redes sociais.
CHORO E DESESPERO.
Dia 21 de abril de 1981, terça-feira. A notícia de que o prédio
estava pegando fogo depressa se espalhou e levou centenas de pessoas ao local.
Ninguém queria acreditar naquilo que via.
Atabalhoadas, tentavam salvar o que podiam, como se cada peça ou
objeto ali existente fosse “um pedaço de cada um” que ardia e se consumia em
chamas.
A Rádio Difusora passou a transmitir flashes do local,
orientando e pedindo ajuda da população. A emissora também entrou em cadeia com
a Rádio Bandeirantes. Em suas considerações, o radialista Salomão Esper, que
estudou no Instituto, lamentou a omissão das autoridades que poderiam ter
evitado aquele lamentável desfecho.
Aquela tarde do feriado do Dia de Tiradentes jaz na memória de
todos nós que tivemos o privilégio de estudar naquele “Bendito Templo de
Instrução”.
REMEMORANDO OS FATOS
Antevendo aquele infortúnio, as diretoras Maria Cecilia da Silva
Lima (1976/1980) e Maria Lucia Silveira Rodrigues (1980/1987) oficializaram
reiteradamente as autoridades estaduais e municipais sobre a necessidade urgente
de reformas, dada a precariedade das instalações elétricas do prédio, forros
tomados por cupins e ninhos de pombas, goteiras sobre fios desencapados, entre
outras precariedades.
Imprensa, instituições, lideranças locais e a população se
uniram para lutar e preservar aquele tão caro patrimônio do município,
denunciando os descasos e cobrando ações imediatas do Governo do Estado. Tudo
em vão. A tragédia estava anunciada.
TAXISTA TESTEMUNHOU O INÍCIO DO INCÊNDIO
Por volta das 13h30, o motorista de taxi, Orlando Calharani, ao
ouvir um estouro seguido de uma fumaça escura que saia do interior do prédio,
logo avisou o prefeito Rubens Santos Costa, que residia nas imediações do IEEP.
Essas fotos, cedidas por Arlindo Gregório (Nenê), registram a
movimentação e o desespero de todos diante das cenas chocantes que se
apresentavam naquele feriado nacional.
Mal acreditando no que viam, as pessoas, desesperadas, chegavam
nervosas, afobadas e, muitas delas, aos prantos. Todos tentavam salvar
mobílias, piano, quadros, cadeiras do Salão Nobre, livros, arquivos,
documentos, empilhando-os na rua José Bonifácio, nas ruas laterais e ao lado da
igreja.
Soldados do Exército e carros pipas da prefeitura, Usina São
Luiz, Caninha 51 e da Transportadora Castro também foram mobilizados.
Num esforço hercúleo, apoiavam as viaturas dos bombeiros da
Academia da Força Aérea, de Araras e de São Carlos também foram acionados.
COMISSÃO PRO-RESTAURAÇÃO DO IEEP
Apagadas as chamas, a imagem do Cristo na cruz, queimada e
dilacerada, simbolizava a agonia dos pirassununguenses em meio aos destroços. A
sensação era de impotência.
O sinistro suscitou a criação imediata da Comissão
Pro-Restauração do IEEP, presidida pelo professor Daniel Caetano do Carmo, que
passou a conduzir as ações junto aos órgãos públicos.
Formado por mais de 30 representantes, o grupo pressionou o
então governador de São Paulo, Paulo Salim Maluf, a liberar a verba necessária
para a restauração do prédio.
Vale destacar a participação do arquiteto pirassununguense Luiz
Antonio Magnani.
Além de ex-aluno, fazia parte do Condephaat - Conselho de Defesa
do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico.
Como consultor técnico, orientou nas decisões da Comissão
Pró-Restauração, e fez também valer seus conhecimentos e influência juntos aos
órgãos estaduais e federais.
RESULTADOS PROMISSORES
A Comissão Pro-Restauração lutou para que o IEEP voltasse a ser
exatamente o que era quando de sua inauguração em 1914.
Por meio da imprensa escrita e falada, todas as decisões e
andamento do processo eram transmitidas à população.
Em 1982 o prédio foi tombado. Uma grande solenidade marcou o
evento.
No ano de 1983, nosso majestoso Instituto de Educação fora
finalmente reinaugurado, voltando a sua vida normal. Em 2011 comemorou o seu
centenário de fundação.
REGISTRO HISTÓRICO: BENDITO TEMPLO DE INSTRUÇÃO
Em 1993, por iniciativa própria, o professor e pesquisador
Israel Foguel dirigiu e lançou o documentário “Bendito Templo de Instrução”,
esclarecendo o que de fato ocorreu antes, durante e após o incêndio do
Instituto de Educação.
Mostra cenas do prédio em chamas, registradas de cima da torre
da Igreja Matriz Senhor Bom Jesus dos Aflitos, em Super 8, pelo fotografo e
cinegrafista Rubens Zerbetto.
Com duração de 1h40, a produção traz depoimentos das diretoras
do Instituto de Educação, Maria Cecilia da Silva Lima e Maria Lucia Silveira
Rodrigues, dos prefeitos Rubens Santos Costa e Fausto Victorelli, do taxista
Orlando Calharani, do presidente da Comissão Pró-Restauração, Daniel Caetano do
Carmo, do funcionário Carlindo Lapola, do professor Arnaldo Duarte de Oliveira,
entre outros.
FERIADO DE TIRADENTES FORA PROVIDENCIAL
Fatos entristecedores como o incêndio do Instituto de Educação,
mesmo que causem reações incomodas ou coisas que o valham, precisam e devem ser
sempre lembrados, para que nada parecido ou pior que isso, possa novamente
ocorrer em Pirassununga.
Que bom que naquele trágico episódio as perdas foram apenas
materiais e puderam ser recuperadas. O Dia de Tiradentes fora providencial. O
incêndio ocorreu num feriado, quando não havia ninguém no interior da escola:
alunos, professores e funcionários. Poderia ter sido muito pior.
Isso é história!
1 comentários:
FOI A PRIMEIRA VEZ QUE OUVI ESSE COMENTARIO. FIQUEI MUITO TRISTE FOI MINHA ESCOLA DE 1947 A 1951. DO PRIMEIRO ANO GINASIAL AO QUARTO ANO E PRE- NORMAL EM 1951 QUANDO MUDEI PARA GUARARAPES. MEU NOME E IVONE LAZARA MARIA GUELLI MENEZES. QUE SAUDADES TENHO ESSA ESCOLA!
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